Queridos amigos!!!
Em janeiro de 2010, foram realizadas filmagens sobre os Oito Principais Lugares de Peregrinação Budista, para a produção de um documentário, divulgando o Budismo, os lugares, os ensinamentos, as viagens...
Queridos amigos!!!
Em janeiro de 2010, foram realizadas filmagens sobre os Oito Principais Lugares de Peregrinação Budista, para a produção de um documentário, divulgando o Budismo, os lugares, os ensinamentos, as viagens...
Chegamos a nosso último destino dentro dos "Oito Principais Locais Sagrados de Buddha", Sarnath, ao lado da famosa e anciente cidade sagrada indiana Varanasi.
Varanasi, hoje também conhecida como Benares, é um centro espiritual, cultural, educacional como também uma das cidades mais sagradas da Índia há milênios. Um local profundamente místico, colorido, alegre e com muito conhecimento a ser oferecido a todos nossos sentidos físicos.
É dito que o príncipe Siddharta, Buddha Shakyamuni, após ter se iluminado sob a árvore Bodhi em Bodhigaya, reconheceu que os seres poderiam vir a se beneficiar de sua descoberta, e da possibilidade destes, através de meios hábeis, atingir o mesmo estado de Buddha, que Shakyamuni havia então realizado.
Buddha percebeu que seus 5 antigos companheiros de ascetismo, que o acompanhavam em meditação nas margens do rio Nairandjana, talvez seriam os vasos mais perfeitos para ouvir sua descoberta, uma vez que já tinham suas mentes treinadas e eram portadores da mesma motivação e busca. Buddha, então, foi a procura de seus velhos amigos de prática em direção a Varanasi, grande centro sagrado e local onde muitos ascetas faziam suas práticas. Chegando em Varanasi, Buddha presta suas homenagens ao sagrado Rio Ganges e o atravessa. Ali, pelos arredores, pergunta aqueles que encontrava sobre seus 5 amigos: Kauṇḍinya, Aśhvajita, Vāṣhpa, Mahānāma, Bhadrika.
Alguns ascetas disseram que possivelmente estes estariam fazendo práticas meditativas em um local conhecido como o "Gotejar de Rishis" (páli. Isipattana, sânsc. Rishipattana), devido a ser dito que neste local muitos sábios santos (Rishis), pousavam dos céus de onde voaram desde os himalayas. Este local também era conhecido como "Senhor dos Cervos/Gamos" ou Sarnath em sânscrito. Este nome deriva da história de que Buddha, em uma vida anterior como um bodisatva, teria sido um gamo que ofereceu sua vida a um rei em troca do rei deixar de matar uma gama. O rei ficou tão comovido que ele tornou o local onde isto aconteceu um santuário para os gamos. Este local onde Buddha encontrou seus velhos amigos espirituais é também conhecido como Migadaya ou "Parque dos Gamos". O grande peregrino budista chinês Xuanzang cita o texto das histórias das vidas passadas de Buddha, o Nigrodhaniga Jataka, como fonte que conta como deriva este nome. Neste texto, menciona-se que este local foi assim chamado devido a ser uma floresta presenteada pelo rei de Beneras onde Gamos vagavam em paz e livres de perigo.
Ao chegar ao local, de longe, os cinco ascetas avistaram seu velho amigo asceta, o príncipe Siddharta. Estes primeiramente, decidiram o ignorar. Entretanto, conforme o Buddha se aproximava, tais ascetas notaram algo de diferente em sua pessoa. Uma presença muito marcante, de tamanha serenidade e leveza. Um olhar de profunda sabedoria unida a um vasto amor que transbordava por todos os poros de seu corpo e tocava seus corações. Esta aura de energia e sabedoria emanava do corpo do Buddha em todas as dez direções. Reconhecendo de que seu velho companheiro espiritual Siddharta haveria realizado a busca e descoberto a verdade, natural e prontamente se levantaram prestando suas reverências e respeitos ao então completamente iluminado - o Buddha.
Os cinco ascetas sentaram ao redor de Buddha e perguntaram sobre sua descoberta. A estes, o Buddha então ofereceu seu primeiro sermão, e girou pela primeira vez a Roda do Dharma, através dos ensinamentos sobre as Quatro Nobres Verdades, hoje, apresentado no texto "Dharmachakra parvatana Sutra"ou "O Discurso do Girar a Roda do Dharma".
1. A Verdade da [experiência] da insatisfatoriedade - Dukkha Satya
2. A verdade de sua origem/fonte - Samudaya Satya
3. A verdade de sua cessação - Nirodha Satya
4. A verdade do Caminho - Marga Satya
É dito que ao término do ensinamento, um dos ascetas atingiu completamente a iluminação. Aos outros, Buddha aprofundou-se mais através de ensinamentos sobre a ausência de existência inerente do eu, ou o não-eu, aprensetando hoje no texto Annattalakkhana Sutta ou o "Discurso sobre a Característica do Não-Eu". Ao término deste segundo ensinamento todos os cinco ascetas haveriam atingido a iluminação completa como também tornado-se os cinco primeiros discípulos de Buddha, contituindo então o nascimento da primeira comunidade budista ou Sangha do Buddha.
Sua Santidade Dzongsar Khyentse Rinpoche diz:
"Quando estiver em Sarnath lembre-se de que este é o local onde Buddha disponibilizou pela primeira vez o caminho a pessoas como você e eu. Enquanto estiver no Parque dos Gamos, através do recordar as palavras do Buddha - por exemplo a verdade do sofrimento - você irá fazer uma conexão com este ensinamento como também com o local onde ele foi ensinado. "
"Prestar homenagens as Três Jóias é sempre uma boa prática a ser feita em locais sagrados. Prestar homenagens aos ensinamentos em Sarnath é, particularmente, muito poderoso. Para prestar homenagens aos ensinamentos, tudo o que você tem que fazer, é recordá-los."
"Basicamente, tente lembrar e apreciar que um caminho que tem o poder de transcender samsara e remover todas as máculas de fato existe."
(O que fazer em locais sagrados budistas na Índia - de Dzongsar Khyentse Rinpoche)
Seguindo estas instruções, no Parque dos Cervos nos sentamos e relembramos juntos estes ensinamentos sobre as Quatro Nobres Verdades dados pelo Buddha há 2.500 anos atrás.
Em Sarnath, visitamos a estupa Chaukhandi que marca o local onde Buddha avistou os cinco ascetas meditando. Visitamos a Estupa Dharmajajika que marcaria o local onde Buddha ofereceu seu primeiro ensinamento - O Discurso do Girar a Roda do Dharma -, e a estupa Dhamek onde Buddha haveria concedido seu segundo ensinamento - o Discurso sobre o Não-Eu - aos cinco ascetas. Há controvérsias quanto ao que marcam estas duas últimas estupas - Dharmajajika e Dhamek - onde encontramos versões que diriam que Dhamek marcaria o local onde Buddha ofereceu seu primeiro sermão e Dharmajajika onde concedeu seu segundo sermão.
Como instruído pelos mestres, onde é dito de grande auspiciosidade recitar os ensinamentos dados neste lugar sagrado, Gen Tenphel ofereceu a transmissão oral do Sutra do Girar da Roda do Dharma, em língua tibetana, aos ouvidos atentos dos peregrinos.
Após prestarmos nossas homenagens as estupas e ruínas sagradas do local, meditarmos e relembrarmos dos ensinamentos que ali foram concedidos, para nossa alegria, quase que magicamente, um grande e realizado yogui, Sua Eminência Drukpa Choegon Rinpoche, nos avistou e veio conversar conosco. Choegon Rinpoche é um querido mestre conhecido e admirado tanto por Gen Tenphel como pelo guia Guilherme Samel. A pedido do monge Tenphel, Rinpoche aceitou dar alguns ensinamentos sobre peregrinação para a câmera da diretora Melissa Flores, para nosso filme/documentário Dharma Yatra: Uma Viagem Externa, Interna e Secreta.
Caminhamos pelas margens do Rio Ganges em Varanasi, prestamos nossas homenagens ao Ganga presenciando a cerimonia do fogo desempenhada ali todos os dias pela manhã e final do dia há séculos, contemplamos a impermanência visitando seus crematórios ao ar livre e um novo nascimento, que a impermanência proporciona, através das bençãos de casamento que Gen Tenphel concedeu a dois de nossos casais de peregrinos.
Momentos muito cheios de vida, de emoção e aprendizado vividos no último dos Oito Locais Sagrados de Buddha que visitamos.
No caminho de nossa circumumbulação pela índia, de Sankissa indo em direção a nosso último destino dentre os oito locais sagrados de Buddha, em Sarnath-Varanasi, passamos rapidamente pelo Taj Mahal. Este extraordinário monumento, que parece ser uma terra pura de algum Buddha, um palácio de alguma deidade como descrita nos tantras budistas, na verdade foi construído por um grande rei mulçumano pelo seu grande "desejo-apego" pela sua mulher falecida. Muitos dizem ser um símbolo do "amor", mas pelo que me parece o rei estava completamente louco para ter colocado tanto investimento, milhares de trabalhadores por décadas para construir um monumento tão grande para servir de maosoléu para sua esposa e depois ter cortado as mãos de todos os trabalhadores deste prédio para que não pudessem fazer nada igual em outro lugar para qualquer outra pessoa!
Bom, pelo menos valeu a foto! Será que o monge consegue fazer uma boa publicidade e se tornar um professor de yoga?!
De Shrasvasti viajamos a Sankissa, um dos lugares mais difíceis de se chegar dentre os oito lugares de Buddha na Índia e Nepal. Na história budista dentre os muitos peregrinos budistas em suas peregrinações, foram poucos aqueles que fizeram todos estes oito lugares sagrados de Buddha. Após Buddha até o século passado era comum fazer estes trajetos durante meses a pé. Mesmo nos dias de hoje, onde temos aviões, trens, onibus e carros que nos levem a tais locais, vemos muito, mas muito poucos peregrinos a partir Kushnagar, onde o Buddha faleceu. Em Shrasvasti encontramos alguns. Em Sankissa eramos os únicos peregrinos no dia em que fomos. Ficamos algumas horas lá, e ninguém apareceu. Somente alguns monges Theravada que viviam na região acompanharam uma meditação que fizemos neste local sagrado de Buddha. Fizemos um trajeto diferente do normal, onde Sarnath e Varanasi ficaram por último em nossa peregrinação aos oito locais sagrados de Buddha. Sankissa geralmente é o último dentro do trajeto mais usado por peregrinos que de fato conseguem chegar a este lugar.
Foi aqui que é descrito que Buddha, após ter ascendido a reino celestial onde sua mãe residia para ensiná-la a partir de Shrasvasti, ele teria descendido reaparecendo então no topo de uma pequena montanha em Sankissa. Inacreditalvemente, estes foi um dos locais mais especiais para todos do grupo. Em meio a grande natureza, no topo de um morro com uma vista linda, passáros cantando, uma tranquilidade natural nas pessoas locais, muito pouco movimento e barulho. Sentamos em silêncio, fizemos nossas preces com profundo agradecimento e regozijamos por termos conseguido chegar a este local tão especial, visitado por muito poucos. Acredito que na história budista desde 2500 anos atrás, talvez nosso grupo tenha sido o maior grupo de peregrinos "brasileiros" que tenha visitado tal local como também feito todos os oito locais
sagrados de Buddha em um grupo grande todos vindos do Brasil.
Encontramos aqui também uma estela de Ashoka (Pilar de Ashoka), deste grande rei indiano do século III antes de Cristo, que tornou-se budista e foi um dos maiores patronos do Dharma do Buddha na história do Budismo. Vale notar que este pilar é meio incomum dentre todos que vimos em nossa peregrinação. Geralmente os pilares de Ashoka tem quatro leões em seu topo e uma roda do Dharma abaixo dos quatro leões. Este, tinha um elefante sobre um lótus. Muito lindo! Em Sankissa há realmente esta vibração de um local muito especial com surpresas diversas...