21.1.10

Sarnath/Varanasi

Chegamos a nosso último destino dentro dos "Oito Principais Locais Sagrados de Buddha", Sarnath, ao lado da famosa e anciente cidade sagrada indiana Varanasi.

Varanasi, hoje também conhecida como Benares, é um centro espiritual, cultural, educacional como também uma das cidades mais sagradas da Índia há milênios. Um local profundamente místico, colorido, alegre e com muito conhecimento a ser oferecido a todos nossos sentidos físicos.

É dito que o príncipe Siddharta, Buddha Shakyamuni, após ter se iluminado sob a árvore Bodhi em Bodhigaya, reconheceu que os seres poderiam vir a se beneficiar de sua descoberta, e da possibilidade destes, através de meios hábeis, atingir o mesmo estado de Buddha, que Shakyamuni havia então realizado.

Buddha percebeu que seus 5 antigos companheiros de ascetismo, que o acompanhavam em meditação nas margens do rio Nairandjana, talvez seriam os vasos mais perfeitos para ouvir sua descoberta, uma vez que já tinham suas mentes treinadas e eram portadores da mesma motivação e busca. Buddha, então, foi a procura de seus velhos amigos de prática em direção a Varanasi, grande centro sagrado e local onde muitos ascetas faziam suas práticas. Chegando em Varanasi, Buddha presta suas homenagens ao sagrado Rio Ganges e o atravessa. Ali, pelos arredores, pergunta aqueles que encontrava sobre seus 5 amigos: Kauṇḍinya, Aśhvajita, Vāṣhpa, Mahānāma, Bhadrika.

Alguns ascetas disseram que possivelmente estes estariam fazendo práticas meditativas em um local conhecido como o "Gotejar de Rishis" (páli. Isipattana, sânsc. Rishipattana), devido a ser dito que neste local muitos sábios santos (Rishis), pousavam dos céus de onde voaram desde os himalayas. Este local também era conhecido como "Senhor dos Cervos/Gamos" ou Sarnath em sânscrito. Este nome deriva da história de que Buddha, em uma vida anterior como um bodisatva, teria sido um gamo que ofereceu sua vida a um rei em troca do rei deixar de matar uma gama. O rei ficou tão comovido que ele tornou o local onde isto aconteceu um santuário para os gamos. Este local onde Buddha encontrou seus velhos amigos espirituais é também conhecido como Migadaya ou "Parque dos Gamos". O grande peregrino budista chinês Xuanzang cita o texto das histórias das vidas passadas de Buddha, o Nigrodhaniga Jataka, como fonte que conta como deriva este nome. Neste texto, menciona-se que este local foi assim chamado devido a ser uma floresta presenteada pelo rei de Beneras onde Gamos vagavam em paz e livres de perigo.

Ao chegar ao local, de longe, os cinco ascetas avistaram seu velho amigo asceta, o príncipe Siddharta. Estes primeiramente, decidiram o ignorar. Entretanto, conforme o Buddha se aproximava, tais ascetas notaram algo de diferente em sua pessoa. Uma presença muito marcante, de tamanha serenidade e leveza. Um olhar de profunda sabedoria unida a um vasto amor que transbordava por todos os poros de seu corpo e tocava seus corações. Esta aura de energia e sabedoria emanava do corpo do Buddha em todas as dez direções. Reconhecendo de que seu velho companheiro espiritual Siddharta haveria realizado a busca e descoberto a verdade, natural e prontamente se levantaram prestando suas reverências e respeitos ao então completamente iluminado - o Buddha.

Os cinco ascetas sentaram ao redor de Buddha e perguntaram sobre sua descoberta. A estes, o Buddha então ofereceu seu primeiro sermão, e girou pela primeira vez a Roda do Dharma, através dos ensinamentos sobre as Quatro Nobres Verdades, hoje, apresentado no texto "Dharmachakra parvatana Sutra"ou "O Discurso do Girar a Roda do Dharma".

1. A Verdade da [experiência] da insatisfatoriedade - Dukkha Satya
2. A verdade de sua origem/fonte - Samudaya Satya
3. A verdade de sua cessação - Nirodha Satya
4. A verdade do Caminho - Marga Satya

É dito que ao término do ensinamento, um dos ascetas atingiu completamente a iluminação. Aos outros, Buddha aprofundou-se mais através de ensinamentos sobre a ausência de existência inerente do eu, ou o não-eu, aprensetando hoje no texto Annattalakkhana Sutta ou o "Discurso sobre a Característica do Não-Eu". Ao término deste segundo ensinamento todos os cinco ascetas haveriam atingido a iluminação completa como também tornado-se os cinco primeiros discípulos de Buddha, contituindo então o nascimento da primeira comunidade budista ou Sangha do Buddha.

Sua Santidade Dzongsar Khyentse Rinpoche diz:

"Quando estiver em Sarnath lembre-se de que este é o local onde Buddha disponibilizou pela primeira vez o caminho a pessoas como você e eu. Enquanto estiver no Parque dos Gamos, através do recordar as palavras do Buddha - por exemplo a verdade do sofrimento - você irá fazer uma conexão com este ensinamento como também com o local onde ele foi ensinado. "

"Prestar homenagens as Três Jóias é sempre uma boa prática a ser feita em locais sagrados. Prestar homenagens aos ensinamentos em Sarnath é, particularmente, muito poderoso. Para prestar homenagens aos ensinamentos, tudo o que você tem que fazer, é recordá-los."

"Basicamente, tente lembrar e apreciar que um caminho que tem o poder de transcender samsara e remover todas as máculas de fato existe."
(O que fazer em locais sagrados budistas na Índia - de Dzongsar Khyentse Rinpoche)


Seguindo estas instruções, no Parque dos Cervos nos sentamos e relembramos juntos estes ensinamentos sobre as Quatro Nobres Verdades dados pelo Buddha há 2.500 anos atrás.

Em Sarnath, visitamos a estupa Chaukhandi que marca o local onde Buddha avistou os cinco ascetas meditando. Visitamos a Estupa Dharmajajika que marcaria o local onde Buddha ofereceu seu primeiro ensinamento - O Discurso do Girar a Roda do Dharma -, e a estupa Dhamek onde Buddha haveria concedido seu segundo ensinamento - o Discurso sobre o Não-Eu - aos cinco ascetas. Há controvérsias quanto ao que marcam estas duas últimas estupas - Dharmajajika e Dhamek - onde encontramos versões que diriam que Dhamek marcaria o local onde Buddha ofereceu seu primeiro sermão e Dharmajajika onde concedeu seu segundo sermão.

Como instruído pelos mestres, onde é dito de grande auspiciosidade recitar os ensinamentos dados neste lugar sagrado, Gen Tenphel ofereceu a transmissão oral do Sutra do Girar da Roda do Dharma, em língua tibetana, aos ouvidos atentos dos peregrinos.


Após prestarmos nossas homenagens as estupas e ruínas sagradas do local, meditarmos e relembrarmos dos ensinamentos que ali foram concedidos, para nossa alegria, quase que magicamente, um grande e realizado yogui, Sua Eminência Drukpa Choegon Rinpoche, nos avistou e veio conversar conosco. Choegon Rinpoche é um querido mestre conhecido e admirado tanto por Gen Tenphel como pelo guia Guilherme Samel. A pedido do monge Tenphel, Rinpoche aceitou dar alguns ensinamentos sobre peregrinação para a câmera da diretora Melissa Flores, para nosso filme/documentário Dharma Yatra: Uma Viagem Externa, Interna e Secreta.

Caminhamos pelas margens do Rio Ganges em Varanasi, prestamos nossas homenagens ao Ganga presenciando a cerimonia do fogo desempenhada ali todos os dias pela manhã e final do dia há séculos, contemplamos a impermanência visitando seus crematórios ao ar livre e um novo nascimento, que a impermanência proporciona, através das bençãos de casamento que Gen Tenphel concedeu a dois de nossos casais de peregrinos.

Momentos muito cheios de vida, de emoção e aprendizado vividos no último dos Oito Locais Sagrados de Buddha que visitamos.